Ainda deste lado da margem, contemplo a extensão da travessia, apenas iluminada pela réstia de luz coroada de um espasmo rosa de paz que o horizonte deixa antever...
Sem barco e sem meios senão a dimensão da plenitude que me habita, deixo que a luz azulada me penetre num acto de aquietação.
Una com o ar e com o silêncio, distancio-me cada vez mais do anterior, enraizada na Terra com a sua nova dinâmica, amparada na sabedoria da árvore, antiga e fiável companheira,
Para onde vou não sei, mas sei que não vou para onde me queriam levar. Como instrumento só tenho o que a minha alma sabe, como referencial apenas a faixa fina de luz sentida na distância.
Contemplo a promessa da sagrada Aleluia...
Mariana Inverno, in “O Livro dos Afectos”